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Setembro Amarelo: os impactos da Síndrome de Burnout no ambiente de trabalho
A matéria especial sobre o assunto fecha o mês em que se promove a campanha nacional de prevenção ao suicídio
“Estamos vivendo no século do cansaço”. Esta foi a definição usada pela psicóloga Regina Heloisa Mattei de Oliveira, em palestra realizada pelo Programa Trabalho Seguro da Justiça do Trabalho, para chamar a atenção para o estresse causado pelo excesso da carga de trabalho, a chamada Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional.
Segundo Heloísa, quando este esgotamento não permite que a pessoa se recupere, ele desencadeia um estado de adoecimento, seja na vida pessoal ou profissional. “Isso leva a um aumento considerável dos transtornos mentais e das doenças ocupacionais, gerando um aumento significativo de afastamentos do trabalho”, afirmou.
Burnout
Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) oficializou o Burnout como uma doença que resulta de estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. Em 1º de janeiro de 2022, mês da campanha “Janeiro Branco”, voltada para as questões de saúde mental e emocional, a OMS reconheceu o transtorno como uma doença ocupacional.
Segundo o Ministério da Saúde, os principais sinais e sintomas que podem indicar a Síndrome de Burnout são: cansaço excessivo (físico e mental), insônia, alterações repentinas de humor, sentimentos de incompetência , fracasso e insegurança, dores musculares e de cabeça frequentes e pressão alta, entre outros.
Vida profissional + vida pessoal
Com o objetivo de incentivar o cuidado com a saúde mental no Brasil, o mês de setembro é marcado pela campanha Setembro Amarelo, que este ano teve como slogan “ Se precisar, peça ajuda!”
Mas quais ações podem ser tomadas por gestores para a melhoria deste cenário de sobrecarga de trabalho?
Segundo a psicóloga do TST Fabíola Izaías, quando falamos da Síndrome de Burnout, é necessário pensar em processos de trabalho exequíveis, que favoreçam a conciliação entre a vida profissional e a pessoal. “Não se trata apenas de carga horária ou de cumprimentos de metas. O esgotamento também está ligado a situações das mais variadas formas de violência, como, por exemplo, a exposição a condições de trabalho desconhecidas, sem o devido treinamento, que levam a pessoa ao limite do estresse”, explica.
Segurança psicológica
Segundo Danilla Veloso, supervisora de Formação e Aperfeiçoamento da Coordenadoria de Desenvolvimento de Pessoas do TST (Cdep), uma das formas de se promover um ambiente de trabalho saudável passa pela sensibilidade do gestor em propiciar um espaço onde prevaleça a segurança psicológica. “Isso passa, por exemplo, por estimular o desenvolvimento da equipe em um cenário em que o erro é tolerado e a diversidade de opiniões é totalmente aceita”, observa. “Não podemos ter medo de gerir os conflitos, pois eles fazem parte da nossa caminhada, e temos de lembrar que relações passam pelo estabelecimento de vínculos de confiança”.
Segundo ela, a forma de gerenciamento de equipes, a fim de obter os resultados esperados, afeta diretamente a saúde do ambiente de trabalho e a saúde mental. ”Evitar que a pessoa chegue ao estado de esgotamento passa pelo respeito à sua individualidade”.
Construção diária
A manutenção de um ambiente de trabalho sadio e acolhedor e o fortalecimento das relações entre gestores e equipes pode se dar com diferentes ações. Veja algumas delas:
* Fortalecer a autonomia dos colaboradores e estimular o desenvolvimento contínuo.
* Promover a cultura do diálogo, reservando um tempo do dia para conversar com as pessoas da equipe de forma mais individualizada. Isso vai permitir conhecer cada um mais de perto.
* Instituir a cultura da celebração das conquistas, seja o alcance de metas, o sucesso na realização de um evento ou o desenvolvimento de um produto, entre outras situações. Valorize esses momentos.
* Respeitar o direito à desconexão e os horários de jornada de trabalho, utilizando somente os canais de comunicação institucionais, como e-mail ou chat.
* Estabelecer espaços de colaboração e parceria entre todas as pessoas da unidade, alinhando uma linguagem e trazendo segurança para o caminhar da equipe;
* Estabelecer espaços de cocriação e colaboração. O gestor ou a gestora, diante de um problema, não precisa ter a resposta imediata. A questão pode ser dividida com a equipe facilitando a criação e o fortalecimento de vínculos.
Prioridade
Cuidar da saúde mental deve ser tão prioritário quanto os cuidados dispensados à saúde física. Fabíola Izaias ressalta que, muitas vezes, o que dificulta o diagnóstico e o tratamento da Síndrome de Burnout é a demora em pedir ajuda. “As pessoas ainda colocam a saúde mental em segundo plano. Precisamos naturalizar a importância desse cuidado”, diz.
Nessa perspectiva, ela ressalta a grande dificuldade, principalmente, dos homens, em admitir que precisam buscar orientação profissional para enfrentar situações de esgotamento mental. “Muitas vezes eles só buscam ajuda quando o adoecimento já está em alto grau de comprometimento”, assinala. “Todos desejamos alcançar o sucesso profissional, mas não podemos colocar nossa saúde mental em segundo plano para alcançar este objetivo”.
Dados
O Relatório Mundial de Saúde Mental da OMS, publicado em junho de 2022, mostrou que, em 2019, um bilhão de pessoas viviam com transtornos mentais. O estudo também revelou que 15% dos adultos em idade laboral sofreram com algum transtorno mental.
Este cenário foi agravado em 2020, com um aumento de 25% nos casos de ansiedade e depressão em decorrência da pandemia da covid-19.
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